Há 120 anos, três empreendedores se uniram para colocar o Brasil e, especialmente, a Zona da Mata Mineira, na vanguarda da revolução tecnológica que acontecia no mundo. Em meio a um ambiente conturbado - com uma crise de superprodução de café que fez com que o preço da nossa, então, principal commodity despencasse -, José Monteiro Ribeiro Junqueira, Norberto Custódio Ferreira e João Duarte Ferreira apostaram que a energia elétrica era o impulsionador que faltava para mudar a região. A ideia era diversificar e reduzir a dependência econômica do grão de café. E assim, nasce a Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina, responsável por gerar e distribuir energia elétrica, antes mesmo da então capital, o Rio de Janeiro, ter esse serviço.

Atualmente, a Energisa, que nasceu com um quê de startup, atua em praticamente todo o território nacional e atende mais de 20 milhões de pessoas com geração, transmissão, comercialização e distribuição de energia elétrica. Em um movimento de diversificação, que transformou a Energisa em uma empresa de energia em seu sentido mais amplo, a Companhia também distribui gás e, a partir do segundo semestre de 2025, vai passar a produzir biometano.

Para entender um pouco mais do legado da Energisa e o caminho para os próximos 120 anos, conversamos com o CEO Ricardo Botelho.

Juntos: Ricardo, a Energisa mudou bastante ao longo desses anos, acompanhando e impulsionando as inovações tecnológicas. Mas o que a empresa ainda tem em comum com a antiga Companhia Força e Luz de 1905?

Ricardo Botelho: A nossa essência continua a mesma: o nosso DNA empreendedor, o nosso compromisso com a vida, com a ética, com a sustentabilidade e o desenvolvimento dos territórios onde estamos presentes, o foco no cliente, o cuidado e a valorização das nossas pessoas e a geração de resultados extraordinários.

Além disso, a família acionista está envolvida na liderança das operações, ao mesmo tempo que exerce o controle da Companhia. Já estamos indo para 5ª geração de empreendedores, o que garante a continuidade dos valores e do legado que nos trouxeram até aqui, com um olhar para o futuro sempre inquieto e curioso, assim como tinham os fundadores.

Juntos: Em um setor tão dinâmico e essencial como o de energia, quais são os maiores desafios que a empresa enfrenta hoje?

Ricardo Botelho: Imaginar um mundo sem energia hoje é impensável, não é? O desafio é exatamente a crescente dependência energética, seja das pessoas - mais conectadas e exigentes -, ou de setores econômicos eletrointensivos e que promovem o desenvolvimento do país. Isso demanda cada vez mais inovação e agilidade para garantir que a energia chegue de forma segura e eficiente. As redes precisam ser mais complexas para lidar com o aumento da demanda e, ao mesmo tempo, resilientes frente às mudanças climáticas, que trazem eventos extremos. Para lidar com esses desafios, a inovação e o uso de tecnologias são de extrema importância e isso demanda investimentos robustos. Precisamos cada vez mais de um cenário econômico e regulatório que dê segurança jurídica necessária para a atração desses investimentos, especialmente os de fora do Brasil.

Juntos: Como a empresa tem se preparado para o futuro?

Ricardo Botelho: O mundo já passou por diversas transições energéticas nos últimos 100 anos.  Elas sempre foram impulsionadas por melhorias na densidade e eficiência energética. Sem energia abundante e acessível não haveria civilização. Da lenha, ao carvão, passando pelo petróleo/gás natural, energia nuclear e as energias renováveis todas estas transições foram importantes para que a humanidade pudesse evoluir.

Mas não podemos avançar agora sem uma profunda transformação na demanda e na oferta, precisaremos de colaboração global, em torno da forma como produzimos, distribuímos e consumimos energia.

Aqui no Grupo Energisa, acreditamos que o caminho para a transformação energética pede um consumo mais consciente dos recursos naturais e o nosso objetivo é sermos o parceiro ideal dos nossos clientes na jornada da transição energética, por meio do que chamamos de Energia 5D: diversificada, descarbonizada, descentralizada, digitalizada e democrática, com produtos e soluções personalizados para atender as necessidades de cada um.

Nos estruturamos como um ecossistema, que oferece ao mercado soluções inovadoras e sustentáveis em energia, voltadas às mais diferentes necessidades de clientes residenciais, comerciais e industriais, localizados em áreas urbanas, rurais e até isoladas.   

Em 2022, criamos a (re)energisa, uma marca que trouxe o conceito one stop shop para clientes que querem geração solar distribuída, energia no mercado livre, serviços de operação e manutenção ou até mesmo certificados que comprovem o consumo de energia de fontes renováveis. No negócio de transmissão de energia, chegamos à 13ª concessão, com o foco em interligar sistemas que antes eram apartados do Sistema Interligado Nacional (SIN) e escoar a energia renovável gerada no Nordeste para os centros de consumo no sul do país.

Em mais um passo importante de diversificação, em 2023, adquirimos o primeiro ativo de distribuição de gás natural, a ES Gás, no Espírito Santo. No mesmo ano, adquirimos a Agric, empresa de compostagem que estamos transformando na maior usina de biometano do estado de Santa Catarina. Por fim, em 2024, nos tornamos sócios de quatro distribuidoras de gás no Nordeste (PE, CE, AL e RN).

Essa mistura de elementos que parecem ser diferentes é, na realidade, o caminho para uma transformação energética possível. Elétrons, moléculas e bytes se complementam e guiam a nossa estratégia de diversificação, sempre de olho na segurança energética e modicidade tarifária.

Juntos: E como a entrada nesse novo setor de gás contribui para a transição energética e o compromisso com a sustentabilidade da Energisa?

Ricardo Botelho: Apesar de ser de origem fóssil, o gás emite 27% menos CO² que o petróleo e 44% menos que o carvão. Por isso, ele é considerado o combustível da transição energética, sendo produzido em escala suficiente para garantir uma descarbonização significativa em indústrias de diversos segmentos, sobretudo nas que dependem de muita energia para produzir calor. Ao lado das energias renováveis, o gás natural pode ser uma alternativa estratégica para a descarbonização. No caso do Grupo Energisa, temos trabalhado para possibilitar a mistura de gás natural com o biometano, trazendo sinergia entre as nossas operações e reduzindo ainda mais as emissões.

Em 120 anos de atuação no setor elétrico, acumulamos ampla experiência na gestão de ativos de distribuição, no relacionamento com clientes no varejo e no conhecimento profundo tanto do ambiente regulado quanto do livre, o que nos coloca em posição privilegiada para impulsionar a evolução e a competitividade no segmento do gás e para enfrentar as mudanças de um mercado dinâmico e em constante evolução. Temos o compromisso de expandir a rede de gás e número de clientes nas áreas em que atuamos, compartilhando as melhores práticas que guiaram durante esses 120 anos.

Juntos: Como a Energisa lida com a questão das mudanças climáticas, que são o grande desafio da humanidade?

Ricardo Botelho: O Grupo Energisa assumiu, em 2022, nove compromissos pela sustentabilidade baseados no tripé: protagonizar a transição energética, promover a mobilidade social e mitigar o impacto. Nesse contexto, seguimos monitorando os resultados em busca da melhoria contínua das nossas práticas e investimentos, que garantem uma jornada com impactos positivos nas questões econômicas, ambientais, sociais e de governança. Uma das metas estabelecidas foi cumprida em dezembro de 2024, dois anos antes da data prevista inicialmente. Desligamos 20 usinas termelétricas no coração da Amazônia Legal e conectamos diversas comunidades ao Sistema Interligado Nacional. Com isso, o Grupo conseguirá evitar a emissão de 539 mil toneladas de CO² por ano.

Em uma outra perspectiva, as mudanças climáticas trouxeram novos desafios para a infraestrutura das redes e, por isso, a modernização é uma prioridade. A tecnologia, como a automação das redes e a inteligência artificial para inspeção, é fundamental nesse processo. Essas ferramentas nos ajudam a antecipar eventos como tempestades e enchentes, fazer manutenção preventiva e permitir uma gestão mais eficiente dos fluxos de energia, que hoje não são mais unidirecionais, mas sim multilaterais.

Com tanto tempo fazendo a gestão operacional de ativos, entendemos que o investimento em tecnologia e treinamento dos nossos colaboradores não é suficiente para responder a esse desafio. Estamos cada vez mais próximos de parceiros estratégicos, com bombeiros, defesa civil e governos com o intuito de dar respostas mais rápidas em situações críticas. Da mesma forma, temos sido cada vez mais transparentes nas comunicações aos nossos clientes, deixando-os a par do trabalho realizado por nossas equipes e propagando informações meteorológicas de órgãos públicos com o intuito de preservar vidas.

Juntos: Para finalizar, qual a sua mensagem para os clientes e para a sociedade, pensando no futuro da energia?

Ricardo Botelho: A Energisa quer ser o parceiro ideal do cliente e é para isso que trabalhamos todos os dias. Somo uma empresa brasileira, com raízes mineiras e que absorve o melhor de cada lugar em que atua e tem real preocupação em desenvolver e causar impacto positivo. A energia é uma commodity vital para pensar o futuro do planeta e o desenvolvimento do Brasil. Precisamos de um ambiente que nos permita aproveitar o superciclo de investimentos em energia.

A energia é uma ferramenta poderosa, e nossa missão é usá-la para criar possibilidades e soluções para a sociedade, transformar a vida das pessoas e a contribuir para um planeta mais equilibrado. Estamos construindo os próximos 120 anos com a mesma robustez e espírito empreendedor que nos fizeram chegar até aqui.